Almoço
A enfermeira a quem eu tinha que dar banho, e para isso inventar mil e uma coisas para a levar para a casa de banho, tinha demência em estado já muito avançado. Lembrava-se de acontecimentos do passado: lembrava-se que o seu primeiro emprego tinha sido num hospital no Porto, sabia a morada de cor de uma casa onde tinha morado com o marido e os filhos, contava histórias do tempo em que tinha trabalhado num hospital psiquiátrico, recitava poemas sobre a rainha santa Isabel.
Mas depois havia episódios em que baralhava tudo. Íamos muitas vezes com ela ao minipreço fazer compras; quando chegávamos à caixa para pagar ela recusava-se - dizia que as compras não eram para ela. Passámos a ter que inventar que as compras eram para nós e levávamos dinheiro escondido para pagar. Sempre que íamos a médicos com ela, tinhamos que lhe dizer que éramos nós que tínhamos consulta marcada (se não ela não queria ir). Quando havia medicação para ir buscar á farmácia era necessário esconder dinheiro no bolso para pagarmos mas a ela diziamos que o filho já tinha pago a conta.
Uma vez preparei um almoço para mim e para ela, na casa dela. Chamei-a para irmos almoçar. E ela pergunta-me "quanto é que custa aqui um almoço?
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