choupal
Há uma família que a certa altura acompanhei; tinha uma mistura de tragédia e de família unida. Esta família era composta por um casal, já com os seus oitentas e tal anos e pelo seu neto de vinte e poucos anos. Este casal tinha tido uma filha, esta faleceu de doença grave. O neto ficou à responsabilidade dos avós. Era uma família com dificuldades: o senhor era funcionário dos correios e a senhora fazia bolos em casa e vendia para fora. Conseguiram pagar um curso superior à filha (que se tornou professora) e depois ao neto (que se tornou engenheiro). A senhora, vestida de luto da cabeça aos pés, tinha um orgulho imenso em ter conseguido comprar a casa onde viviam e tinha um orgulho ainda maior por saber que a ia deixar ao neto. Pelo neto fazia tudo - tinha sempre uma enorme preocupação em manter bem passadas a ferro as melhores calças dele. E tinha também uma enorme dor pela perda da única filha.
Quando tive contacto com esta família, as minhas funções eram a de ajudar o casal de idosos a comer, tomar medicação, tomar banho e fazer um pouco de companhia.
O que mais gostava era de ouvir a senhora a contar histórias da sua juventude passada no choupal (o seu pai era guarda florestal no choupal). Aquilo que plantavam e que colhiam, a descrição dom trabalho do seu pai lá na mata, a descrição do trabalho das lavadeiras no rio Mondego, as faltas que ela dava à escola para ficar a ajudar a sua mãe a fazer sopa e depois ir dar sopa ás lavadeiras. Sobretudo o que mais gostava de a ouvir dizer era: fui tão feliz no choupal!
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