Cinema
A utente, onde tenho ido com mais frequência nos últimos tempos, é uma senhora com parkinson e com cada vez mais mobilidade reduzida. Passa muito tempo ou deitada no quarto ou deitada no sofá da sala. A juntar a isto, é conhecida por ter uma certa dose de mau feitio. Por vezes, satura-se! Quando está farta de tudo, resolve inventar! Um dos hábitos que ela tem é mandar-nos despejar armários de roupa: tirar tudo cá para fora para logo a seguir arrumar tudo outra vez. Há alturas em que se lembra que é giro experimentar a roupa. Como ele já não se aguenta em pé até no Inverno suamos em bica.
Uma das coisas que ás vezes consigo fazer com esta utente é fazer sessões de cinema. Algumas vezes satura-se e tentamos ver alguns e não chegamos ao fim de nenhum. Mas há outros dias em que temos verdadeiras sessões de cinema.
Em pouco tempo conseguimos ver dois filmes de que gostei e que a utente seguiu bem. Um era sobre descendentes de judeus que lutavam pelos bens que lhes tinham sido expropriados pelos nazis e que tinham sido colocados em museus nacionais (no caso concreto do filme na Aústria). Uma senhora judia fugiu da Austria recém casada, deixou os pais para trás, e foi viver para a América e lá fez a sua vida. Na América conheceu um advogado ainda jovem, neto de judeus que morreram nos campos de concentração. Juntos lutaram por um quadro que pertencia à família dela. Foi uma luta contra o estado Austriaco e que eles venceram ao fim de muitos anos. Chegámos ao fim do filme e ela disse-me: pensando bem não gosto de judeus.
O outro filme tinha a ver com um casal - ela branca e inglesa e ele negro e sul africano- que resolveram casar na Àfrica do sul, no inicio do Apartheid. Casaram e o filme trata de todas as peripécias por que passaram para poderem ficar juntos. No fim ela diz-me : nunca casaria com um preto.
Assusta-me a mentalidade de uma senhora que foi assistente social e que foi casada com um médico mas que não conseguiu abrir o espírito para aceitar a diferença. Uma diferença tão básica - a cor da pele.
(pior ainda é quem com metade da idade dela não consiga aceitar essas diferenças, nos dias de hoje)
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