Ser Cuidadora
Desde Março de 2012 que sou cuidadora formal, ou seja sou remunerada por prestar cuidados a idosos no seu domicílio. Tenho prestado cuidados a pessoas ou que vivem sózinhas ou com algum familiar. Em muitos casos estamos ali para aliviar as famílias, recebendo em troca uma compensação económica.
Durante estes anos, tenho prestado estes serviços maioritariamente através de empresas de apoio domiciliário. Na minha opinião, há algumas vantagens nisso. Uma delas dessas vantagens tem a ver com eventuais faltas que eu tenha que dar, por motivo de doença ou para apoiar algum familiar ou férias, nunca sou eu que tenho que arranjar alternativa. A empresa é que comunica que eu não vou e tem que arranjar quem me substituia.
No entanto, o ser cuidadora e prestar estes serviços para empresas tem também algumas desvantagens: é trabalho muito precário - recibos verdes; ganhamos extremamente mal e, se permitirmos, trabalhamos horas a fio. É raro fazer turnos de menos de doze horas; já cheguei a trabalhar mais de 72 horas seguidas; nunca temos hora de almoço, saio de casa ás sete da manha e volto quase ás nove da noite; não há fins de semana nem feriados nem dias de natal ou páscoa. Formação por parte destas empresas também não temos - eu nunca tive.
Ao fim destes anos, eu vou tendo estas histórias para conta (as minhas colegas, concerteza terão outras) mas temos também o desgaste de muitas horas de trabalho com pessoas dependentes e muitas vezes com demências (quando não há demências há feitiozinhos especiais). Sinto sinceramente que muitas vezes os meus níveis de paciência estão no limite.Já me senti quase a rebentar nalgumas situações. E isto é um paradoxo! Se se pretende, e muito bem, aliviar o cuidador informal, porquê sobrecarregar o cuidador formal. Nós temos uma recompensa económica que não chega para nos motivar, bem pelo contrário! E todas as empresas por que tenho passado funcionam de forma idêntica: pagam muito mal, exigem muitas horas de trabalho, não dão formação, recrutam pessoal á pressa.
O que me fica destes anos de trabalho? A experiência e conhecimentos que adquiri; os utentes que conheci e sobretudo as suas histórias de vida (como é que cada vida se cruzará com a de outro utente); o perceber que é crucial respeitar o modo de vida de cada utente e sua família, os seus hábitos e crenças mesmo que sejam opostos aos nossos.
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