Toma lá dá cá
No verão de 2016, fui durante umas semanas a casa de um senhor que tinha tido um AVC; ficou parcialmente dependente. Passou a precisar de ajuda para se levantar, deitar, vestir, tomar banho. O senhor tinha sido polícia e tinha sido também da GNR. Subiu a pulso. Fez a 4ª classe e depois o antigo 5º ano e ao mesmo tempo ia subindo na carreira militar. Tinha exposto na parede da sala todos os diplomas que tinha conseguido ao longo da vida. Era um homem que dizia ser rigoroso na aplicação das regras para os outros e, por consequência, também para ele prório e sua família. As refeições tinham de ser servidas meticulosamente á hora que ele estipulava. Teve três filhos, sendo que um faleceu há uns anos. Todos os filhos tiraram cursos. Um orgulho para este senhor!
No entanto este senhor tinha um problema de relacionamento com a sua esposa. Uma senhora que durante toda a vida tratou da casa, serviu as refeições exactamente á hora que o marido exigia, fazia compras, passava a ferro , tratava dos filhos e agora que o marido estava semi-dependente ajudava a tratar dele. Mas ele não a podia ver à frente. Achava que era obrigação dela tratar de tudo e aceitar ser mal tratada. Dizia que lhe pagava. Ainda lhe perguntei como é que ele lhe pagava e ele respondeu-me : com comida! Cada vez que ela tentava ajudá-lo ele descontrolava-se e começava a enxovalha-la. Ainda lhe disse que não admitia que ele falasse assim com a esposa à minha frente. Resposta dele: dela só quero um olá; toma lá dá cá e adeus!
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