Ser diferente 

Um dos casos que segui foi o caso de um jovem de 19 anos. Este jovem tinha deficiência mental e, parece-me a mim alguns traços de autismo. Era jovem alto, com corpo e força de adulto mas com uma mentalidade de criança de quatro/cinco anos. Estava a frequentar o 12º ano com currículos alternativos e/ou adaptados e frequentava também o centro de actividades ocupacionais de uma associação de pessoas portadoras de deficiência mental. Duas vezes por semana tinha treinos de basquet.

Eu tinha que ir a casa dele de segunda a sexta-feira. Apoiava-o no lanche; sempre que o tempo o permitisse dava uma volta pelo bairro com ele (íamos á padaria, á farmácia, ao talho), apoiava no banho, ouvíamos músicas do batatoon no computador, íamos aos treinos de basquet e, por vezes, fazia pinturas. Durante as duas horas que lá estava a mãe tinha tempo de sair do trabalho e tratar de pequenos assuntos.

Impressionava-me o amor que este jovem tinha pela mãe e que a mãe tinha por ele. Era algo fortíssimo e puro mesmo!

Para além dos passeios pelo bairro (passeios que serviam para que houvesse alguma socialização deste jovem e que eram feitos com regularidade); um dia, em época natalícia, fui com ele a um centro comercial. Objectivo? Comer um gelado e ver o pai natal! E que alegria foi vê-lo sentado ao colo do pai natal.

Nota: confesso que não aguentei ficar mais do que seis meses nesta casa. Não tive força física e psicológica para aguentar um rapaz de 19 anos que de vez em quando me beliscava, puxava cabelos e me partiu uns óculos. Eu sei - ele não tinha culpa! 
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