campainhas Umas das utentes que eu segui, vivia num palacete na zona alta da cidade. O palacete foi herdado pelo marido em regime de Morgadio. Esta utente tinha enviuvado e tinha cinco filhos e um neto. O filho mais velho era o favorito precisamente por ser o mais velho e era ele que geria os bens da família. Mas não exercia uma profissão (tinha tirado o curso de direito). Aliás dos cinco filhos só duas é que trabalhavam -eram professoras num colégio. De resto viviam de rendimentos - propriedades, casa alugadas, quinta no douro e om palacete que estavam a dividir em pequenos apartamentos para alugar a estudantes. A utente obviamente que nunca trabalhou na vida dela. Casou-se e teve os cinco filhos e de resto tinha empr egadas que faziam tudo (incluindo tomar conta dos filhos). Era uma mulher muito bonita mas também muito mimada. O filho mais velho, por ser mais velho, tinha muitos benefícios mas também era muito sacrificado. Tinha que dormir num quarto ao lado do dela (
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A mostrar mensagens de julho, 2017
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Professora Na casa da senhora que não gostava de lavar o cabelo, eu aos fins de semana fazia noites. Durante a semana ia lá só para dar apoio nas refeições - almoço e lanche. Esta era uma senhora difícil. Tinha sido professora numa escola da cidade. Não sei como teria sido em nova mas na altura em que lhe dei apoio era uma pessoa autoritária. Não colaborava em nada: não aceitava o banho, não queria fazer fisioterapia, não queria andar pequenos percursos (quarto-cozinha; cozinha-sala; sala-quarto); não aceitava ficar sózinha na sala. Tudo era motivo de gritaria.Queria a sala sempre com as persianas corridas - era raro ver a luz do dia! O horário das cuidadoras era feito de modo a ajudarmos nas refeições - almoço, lanche e jantar. E passávamos as noites com ela (o marido dormia noutro quarto). Tinham empregada durante a semana. Sábados e domingos éramos só as cuidadoras a ajudar. O que me fazia mais impressão neste caso não eraapenas a maneira de ser da utente; era sobretudo
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Viuvez O farmaceutico que viveu uma parte da sua vida em Benguela e que voltou para Portugal na altura do 25 de Abril era um homem teimoso. Ideias fixas; tudo o que acontecesse de mal, a culpa nunca era dele mas sempre de outra pessoa. Nalgumas circunstâncias das cuidadoras pois eramos nós que lá estavamos com ele mais vezes. Acompanhei este utente em dois momentos diferentes: primeiro no verão de 2015 - através duma empresa; regressei no Verão de 2016 através de outra empresa. Da primeira vez que lá estive, ia só aos fins de semana (durante a semana ia uma colega). Nesta altura gostei de lá estar. Apesar da sua teimosia ele demonstrava gostar de nós e se necessário defendia-nos perante parante a empresa. Apesar dos seus noventa anos, no Verão de 2015, este utente era autónomo; tomava banho sozinho, comia sozinho, andava de autocarro; gostava de ir ao centro da cidade para tratar de assuntos - cortar o cabelo, ir ao banco e á farmácia. Nesta época aconteceram dois e
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Quedas Há uns três anos atrás, fui contactada por uma empresa para ir dar banho a uma senhora. Reconheci-a logo que a vi. Tinha sido professora numa das escolas em que andei. Vivia com o marido, também ele professor! Esta senhora tinha ido a Lisboa, numa excursão de professores, para verem uma peça de teatro. Fizeram a viagem numa altura de Natal. Época de chuva e frio, portanto! No fim da peça, ao sairem do teatro, tiveram que descer uma escadaria; como o piso estava escorregadio, esta senhora escorregou e caiu escada abaixo. Resultado!? uma perna e um braço partidos. Regressou a Coimbra e acabou por ser internada numa clinica. Foi operada ao braço! E passou o Natal e a passagem de ano internada. Quando teve alta, foi para casa e eu durante cerca de dois meses fui ajudar a senhora a tomar banho. Aos poucos foi havendo recuperação; a utente sempre colaborou o mais que pode. Nos últimos dias já me vinha acompanhar á porta! Até que um dia cheguei lá a casa e esta
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Espanholas Ao longo do meu percurso enquanto cuidadora, a determinada altura passei por uma casa onde moravam duas senhoras espanholas - mãe e filha. A mãe tinha noventa e tal anos e a filha tinha setenta e qualquer coisa. Vieram parar a Potugal porque há mais de cinquenta anos fizeram uma visita turistica a coimbra (a mãe e seu marido e a filha e seu irmão). Ficaram hospedados num dos melhores hoteis da cidade . A certa altura sairam do hotel e procuraram um restaurante para almoçar. Perguntaram a um senhor que lhes deu as indicações mas que ficou com a filha debaixo de olho. (A senhora era lindissima pelo que pude ver das fotografias que tinha na casa delas). Assim nasceu uma história de amor! Trocaram contactos, passaram a escrever-se e ela veio para Portugal para se casar. O marido da filha (que já faleceu) era empresário do ramo automóvel. A família da senhora tinha uma boa fortuna porque tinha ourivesarias em Espanha. Construiram aqui uma casa excelent
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Mais ou menos Hoje de manhã fui a casa da senhora que tem o papagaio - o Joãozinho! Esta senhora tem alzheimer em estado já avançado. É uma senhora já sem mobilidade; somos nós cuidadoras e as enfermeiras que a levamos a pé de umas divisões para outras. O marido vai para fora aos fins de semana e ela fica sozinha em casa. Chegamos ao meio dia e damos-lhe o pequeno-almoço, toma um duche e de seguida vai para a sala almoçar. Depois do almoço sentamo-la á frente da televisão e ela lá fica sózinha até que chegue outra cuidadora á hora do jantar. Hoje á hora do almoço, o marido da senhora telefonou. Passei-lhe o telefone e o marido perguntou-lhe se estava tudo bem; sendo que ela respondeu: mais ou menos. Mais ou menos, pergunta o marido! Resposta dela : eu tinha que lhe responder alguma coisa! Nota: Quando chegou a hora de me vir embora, fui-lhe dizer que ia para casa e que ia beber um café: respondeu-me - faça lá o que quiser!
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Dormir a sesta A certa altura deste meu percurso, fui parar a casa de um casal de professores primários. Colaborei com essa família durante um mês e saí. Tinham ambos já mais de 85 anos. A senhora estava bastante bem para a idade que tinha. O marido estava bastante mais abatido; sobretudo relativamente á esposa. Era necessário ajudar a levantar, preparar refeições para que ele as ingerisse, dar banho, ajudar a vestir e depir, levar para a sala ou para o quarto, etc. Gostava dele! Dentro das circuntâncias mantinha algum humor. Cantava umas músicas em tom de provocação (alusivas a mulheres) mas que nós cuidadoras encarávamos também com humor. Não fiquei naquela casa mias do que um mês porque não conseguia concordar com as rotinas que a esposa implementava relativamente ao seu marido. Na minha opinião aquilo não era vida. O marido tinha que dormir a meio da manhã,a seguir ao almoço, antes do jantar e depois toda a noite. Ora ninguém aguenta dormir todas estas horas.
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Ganhar o céu Hoje tive mais um dia de trabalho com a utente que gostaria de se casar com o médico dela. Entrei logo de manhã cedo e por volta das 11 horas da manhã fui dar-lhe o pequeno almoço e mudar-lhe a fralda. Perguntou-me as horas! Disse-lhe que eram 11 da manha e respondeu-me o costume: ainda é cedo, vou ficar mais um bocadão na cama. Depois de repente pergunta-me : a menina quer ganhar o céu? Respondi-lhe : não era mau mas não sei se vou conseguir! Diz-me ela: já ganhou o céu! Disse-lhe eu: mas olhe que eu ás vezes também ando com a cabeça virada ao contrário. E ela remata dizendo: deixe lá isso é normal!
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Irmã Lúcia A irmã Lúcia, que há cem anos presenciou a aparição de nossa senhora em Fátima, viveu no convento das Carmelitas em Coimbra. Há três ou quatro anos atrás erguerem-lhe uma estátua à porta desse convento. Num certo dia, fizeram a inauguração da estátua. Veio o Presidente da Câmara, o Bispo de Coimbra, Padres e Freiras e alguma população de Coimbra. Nessa altura, eu passava dias inteiros em casa de uma utente que morava mesmo em frente do Convento. Depois de ter tratado da utente e ter cumprido com todas as rotinas necessárias, á hora da inauguração pude-me sentar na varanda e assisitir a tudo e com boas vistas. Tarde Santa!
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Sindrome das horas (que não passam) Na maioria da empresas em que trabalhei e na maioria dos utentes por que passei, o número de horas feitas por turno ronda as dez/doze horas. Não podemos sair da casa utente para tomar um café, para dar uma volta de descompressão. É preciso ter em conta que passamos todas estas horas com pessoas que muitas vezes têm demências ou são dependentes. É raro conseguirmos parar porque os utentes querem deitar-se/levantar-se, vestir-se/despir-se; ir à casa de banho; comer/beber. As cuidadoras têm que ter uma paciência quase ilimitada e o número de horas é sem dúvida excessivo. Tenho consciência que consigo manter a calma até determinada altura do dia - cinco/seis da tarde. A partir daí, começo a olhar para o relógio e o tempo não passa. Os turnos deveriam ser mais curtos para que os níveis de paciência se mantenham num nível que seja razoável. Sinto este síndrome das horas que não passam com muita frequência na casa dos utentes. É
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Ser diferente Um dos casos que segui foi o caso de um jovem de 19 anos. Este jovem tinha deficiência mental e, parece-me a mim alguns traços de autismo. Era jovem alto, com corpo e força de adulto mas com uma mentalidade de criança de quatro/cinco anos. Estava a frequentar o 12º ano com currículos alternativos e/ou adaptados e frequentava também o centro de actividades ocupacionais de uma associação de pessoas portadoras de deficiência mental. Duas vezes por semana tinha treinos de basquet. Eu tinha que ir a casa dele de segunda a sexta-feira. Apoiava-o no lanche; sempre que o tempo o permitisse dava uma volta pelo bairro com ele (íamos á padaria, á farmácia, ao talho), apoiava no banho, ouvíamos músicas do batatoon no computador, íamos aos treinos de basquet e, por vezes, fazia pinturas. Durante as duas horas que lá estava a mãe tinha tempo de sair do trabalho e tratar de pequenos assuntos. Impressionava-me o amor que este jovem tinha pela mãe e que a mãe tinha por el
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Médicos Psiquiatras Ontem passei o dia com a utente que marca e desmarca consultas. Tudo correu muito bem. Tomou pequeno almoço. Dormiu até à hora do almoço. A esta hora acordou e quis para a sala almoçar e ver televisão. A meio da tarde quis tomar um duche e beber uma caneca de chá. A certa altura virou-se para mim e disse que queria ir arranjar-se para sair. Tendo em conta que estamos em pleno Verão com temperaturas altas, perguntei-lhe onde queria ela ir com tanto calor. Disse-me: vou jantar fora com o meu psiquiatra. Mas hoje é domingo - disse-lhe eu! Não teime comigo, ele acabou de me telefonar!!! Levei-a para o quarto e vesti-a! Sentei-a novamente no sofá da sala onde supostamente ela estava á espera que o psiquiatra chegasse. Passados dez minutos ela chamou-me e disse-me: pode vestir-me o pijama; o jantar foi adiado para a semana que vem! Um dia hei-de ser eu a precisar de psiquiatra mesmo a sério!
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Enfermeira e Igrejas Durante uns meses segui uma utente enfermeira que tinha alzheimer. Era esta utente que era preciso convencer a tomar banho (como já referi numa outra história). Esta senhora enviuvou cedo e ficou com três filhos. Tinha uma casa nos arredores da cidade mas alugou uma outra para que os filhos estivessem mais perto das escolas que frequentavam. Cada um dos filhos acabou um curso e todos eles foram viver para cidades do norte do país. Ela ficou a viver na casa que alugou para os filhos estudarem. Esta senhora passava relativamente bem os dias mas ao fim do dia ficava mais agitada. Assim, todos os dias que estivessem bons saíamos com ela. Íamos para a rua dar voltas com ela; andávamos pelo centro da cidade, íamos ao supermercado, entravamos na igreja e, se tudo corresse bem, voltávamos para casa e ela estava mais calma. Mas ás vezes fazia birra! Um dia fomos à igreja: Sentou-se e rezou! Depois voltou-se para mim e disse-me: pode-se ir embora que eu hoje j
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cabelos compridos Uma das utentes a quem dei apoio, uma senhora que tinha sido professora, casada com um senhor ligado à magistratura. Tinham filhos - cada um em sua cidade e com os seu trabalhos. Assumo que não foi uma utente com quem tenha tido muita empatia. Era uma senhora difícil que não tinha pudor em gritar fosse com quem fosse. E não fazia o que não lhe apetecia. Problema!? Nunca lhe apetecia fazer nada (a não ser estar deitada no sofá). Não aceitava fazer fisioterapia, nem ser vista por médicos, nem colocar aparelhos nos ouvidos; não aceitava que o marido saísse para dar uma volta, não aceitava ficar só na sala e pior não aceitava tomar banho e muito menos lavar o cabelo. Optámos por começar a ouvi-la gritar - o marido passou a sair, a fisioterapeuta começou a fazer-lhe exercícios, ficava só por bocados na sala, passou a ser seguida por um dos filhos que era médico. E nós cuidadoras passámos a dar-lhe banho á traição. Nos dias estipulados, arranjávamos a casa de ba
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casas Desde que comecei a trabalhar nesta área, comecei a ter o sentimento de fechar casas. Casas que pertenciam a uma família ou a uma pessoa ou a um casal. Ali estão as histórias referentes àquela família. Mas há um dia em que as vidas acabam e as casa deixam de fazer sentido. Quem ficar com essas casas irá viver outras histórias. O mesmo se passa com as mobílias. As mobílias que fizeram sentido para uma família não fazem para os filhos ou sobrinhos. Mobílias de arte sacra que foram vendidas porque filhos e netos já não queriam; um serviço de jantar pertencente a uma avó mas que o neto não quis porque a namorada comprou um novo; as mobílias da casa de uma utente que estão num armazém alugado porque os sobrinhos não as querem. É um sentimento de casa fechada...! Uma vida que termina e muitos dos bens deixam de fazer sentido!
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Ser diferente No meu percurso pelo apoio domiciliário, dei apoio durante uns meses a um senhor com deficiência mental. Era um senhor já na casa dos sessenta anos e que frequentava uma associação de apoio a pessoas com deficiência mental. Todos os dias ele ia na carrinha para o centro de actividades ocupacionais dessa associação. Ao fim da tarde regressava. Este senhor vivia com duas irmãs que eram as suas tutoras. Eram professoras e era interessante ver como lidavam relativamente bem com a situação de viver com um irmão portador de deficiência e que nunca podia ficar sozinho em casa. Alteravam-se para poderem sair e ir a cinemas e espectáculos. Eu tinha que o ir esperar todos os dias da semana à prta da casa dele. Vinha na carrinha da associação. Subíamos e as rotinas eram sempre iguais. Entravamos em casa, lanchava, tomava banho, vestia o pijama, fechava todas as persianas da casa, fazíamos um pouco de marcha pela casa e sentava-se no sofá á espera das irmãs. Um dia
acamados
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Acamados A utente que eu seguia na casa que pertencia a uma organização religiosa estava acamada. Usava sonda nasogástrica, não falava e estava sempre de olhos fechados. Ia lá um enfermeiro de reabilitação duas vezes por semana e todos os dias lá ia uma equipa de cuidadoras dar-lhe banho. Havia grande cuidado no tratamento da sua roupa e algum cuidado com alimentação. Todos os dias era feito o levante para a cadeira de rodas e sempre que possível íamos com a utente para a sala de estar da casa. Ligávamos a televisão e ali ficávamos um bocadinho todas as tardes. Duas pequenas questões: as donas da casa queriam que ligássemos a televisão em canais de desenhos animados; nunca noutros canais. Nunca percebi porquê! Um idoso não volta a ser criança! Esta utente arrancava a sonda nasogástrica se tivesse as mãos soltas - quando íamos com ela para a sala, tinha de haver vigilância máxima; quando estava na cama tínhamos de lhe amarrar as mãos à cama. Eu tive este procedimen
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Ser cuidadora Ás vezes dou por mim a pensar na importância destas empresas na vida dos utentes. Claro que têm importância! São assegurados os cuidados básicos aos utentes - alimentação, banhos, medicação, acompanhamento a consultas, serviços de enfermagem, idas a cabeleireiros e, por vezes, alguns passeios. Mas será que isto chega? Penso nas rotinas que se geram na casa de alguns utentes - levantar, tomar banho, pequeno-almoço, ver televisão, almoçam, ver televisão, lancham e ver televisão, jantam e vão dormir. Excepcionalmente saem para consultas ou cabeleireiros; por vezes pequenas voltas. Tendo em conta que muitos dos utentes vivem sozinhos; convivem apenas com as cuidadoras. Acho tão redutor!
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Gata Uma vez resolvi ter uma utente por conta própria. Era uma senhora que eu conhecia dos tempos em que fiz Mestrado na área da Educação Especial - cegueira e baixa visão. Esta era uma senhora cega e que era professora de Braille na Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal. Na época do mestrado fiz uma formação em Braille em que ela foi minha professora. Gostei de a ter como formadora de Braille. Para além do pouco que aprendi de Braille ( por minha culpa e não por culpa dela), foi muito interessante verificar que uma pessoa cega pode ser autónoma. Esta senhora licenciou -se; foi professora toda a vida; tinha orientação e mobilidade e, portanto, deslocava-se a pé e de autocarro pela cidade. Adorava viajar - dizia que gostava de apreciar os cheiros, as comidas e as descrições que lhe faziam dos locais. Uma vez foi com o irmão fazer uma viagem ao Brasil; ficaram no mesmo quarto e o irmão morreu nessa viagem. Teve que ficar no quarto de hotel até que um dos sobrinhos a fosse bus
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Cortesia A utente, que mais tenho acompanhado nos últimos tempos, é uma senhora com os seus 84 anos. Tem parkinson; algumas ansiedades e está com cada vez menos mobilidade. Toma imenso ansiolíticos e comprimidos para dormir; o que significa que ainda se torna mais difícil movimentar-se pois fica sob o efeito dos medicamentos. Tanto é que ela morava numa casa que tinha degraus logo à entrada e depois uma escadaria dentro de casa e foi necessário mudá-la para um apartamento num prédio com elevador. Tinha -se tornado insustentável subir e descer escadas com ela. No entanto, ela não tinha consciência desta sua limitação. Acha que se consegue movimentar sem problemas. Ora, se estivermos em casa e ela quiser fazer pequenos percursos e demorar muito tempo, não há muito problema; como se costuma dizer: ninguém anda atrás de nós. Agora em certas situações torna-se constrangedor ela querer andar a pé. Uma vez, eu tinha acabado o meu turno e despedi-me dela, dizendo-lhe: boa noite
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Ser Cuidadora Ser cuidadora em Portugal é ter um trabalho verdadeiramente precário. Passamos recibos verdes, ganhamos à hora, fazemos nós os descontos para a segurança social, pagamos IRS, se tivermos dias de férias não recebemos. Ou seja só compensa se trabalharmos que nem "malucas" ou se acumularmos com outros trabalhos. Óbviamente que com as dificuldades que existem em arranjar outros empregos há sempre quem vá aceitando trabalhar como cuidadora em condições muito precárias (incluindo eu que trabalho nesta área há mais de cinco anos). A juntar a isto as empresas aproveitam-se das situação e contratam pessoas e não têm que assumir encargos com impostos, o que lhes facilita enormemente o funcionamento. Assim, nós cuidadoras precisamos de fazer horas a fio para termos um ordenado minimamente de jeito ao fim do mês. As empresas aproveitam essa situação e solicitam-nos que façamos turnos atrás de turnos. Já me aconteceu fazer doze horas durante a noite e logo de segu
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Aniversários A utente, que costumava ter a visita das freiras, tinha um sobrinho e afilhado. Este morava na casa que ficava mesmo ao lado da casa da utente. Este sobrinho por motivos de saúde não podia trabalhar. Ocupava então o seu tempo a ajudar as freiras do convento das carmelitas; sendo que ele tratava de alguns recados que as freiras lhe iam pedindo. Ia á missa ao convento e, se calhar, a outras igrejas também. Fazia também visitas frequentes à sua tia, sempre muito educado. Sabia a vida de toda a gente ali na rua. (foi por ele que soube que o cabeleireiro onde eu ia com a minha mãe quando era pequena se matou). Uma coisa que ele sabia ao pormenor eram os aniversários de toda a gente. E toda a gente é toda a gente - os primos, os tios, os filhos dos primos, a vizinha do cimo da rua e a vizinha da rua de baixo, etc. Então sempre que havia um aniversário na família, lá ia o senhor comprar um ramo de flores , lá fazia o telefonema da praxe e combinava para fazer a
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Chocolate Na casa da utente onde costumava ir a freira carmelita, ia também ao domingo uma outra freira. Esta pertencia a um outro convento. Não usava hábito; andava vestida como o comum dos mortais.Era uma senhora já dos seus oitenta anos, andava sempre com uma bengala. Mas era muito despachada e muito bem disposta. Esta freira tentava praticar o bem fazendo visitas a pessoas mais desfavorecidas ou vulneráveis. Sei que ia frequentemente fazer visitas à penitênciária; visitava sempre alguns dos presos que lá estavam. De vez em quando ao domingo, aparecia na casa desta utente. Sempre que lá ia era uma animação: ria-se e contava histórias! E levava sempre uma pequena prenda para a utente - chocolate de culinária, partido aos bocadinhos pequenos e embrulhado em papel prata. Chegava lá e enfiava-lhe o chocolate pela boca a baixo. A utente deliciava-se e lá ia comendo, apesar de ficar com a boca toda suja (que depois era eu que tinha de limpar; mas perdoava-se o mal pelo bem